em 2021

Renúncia a celular e gasolina gera R$ 204 mil de economia na Câmara

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)

O ano no Legislativo municipal, que contou com ampla representatividade - política e social - entre os 21 parlamentares, três CPIS, comissões com propósitos diversos, além de polêmicas, também deixa uma marca importante: uma economia de R$ 204.782 em renúncias de cotas com telefone móvel e gasolina. Mais do que isso, esse valor foi revertido para a sociedade no momento em que realmente era preciso da atuação do Estado em meio à maior crise sanitária já atravessada.

É que essa "economia" feita em 2021 veio a partir de cotas abdicadas pelos vereadores. Foram 15 parlamentares que abriram mão de utilizar o dinheiro público para o uso do telefone celular e 13 para pagamento de combustível. O valor é parte dos cerca de R$ 3 milhões que a Casa do Povo renunciou para instituir o programa Auxílio Inclusivo Municipal. O benefício repassa R$ 200 para 8 mil famílias, além de disponibilizar 16 vales-transporte por mês a cada beneficiado.

Em uma conta simples é possível dizer que, somente com o valor das cotas desses vereadores - R$ 204.782 -, 1.023 pessoas foram favorecidas com o auxílio. A proposta, que surgiu como socorro financeiro a pessoas em situação de vulnerabilidade social e atingidas pela Covid-19, foi um projeto sugestão da vereadora Marina Callegaro (PT), votado por unanimidade, e enviado ao Executivo.

Cleber Martins, professor de Ciência Política, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), observa que a utilização adequada dos recursos é um princípio fundamental em qualquer órgão público. A realização das atividades parlamentares, inerentes às democracias representativas, demanda uma série de recursos, previstos no respectivo orçamento:

- Os valores economizados e não utilizados podem significar um cuidado com o uso do dinheiro público. Por outro lado, é possível entender que o planejamento das despesas orçamentárias, nos temas especificados, deva passar por algum tipo de revisão, considerando uma análise das despesas ao longo dos últimos anos, por exemplo, e o que não foi utilizado, para uma eventual adequação.

CORRESPONDÊNCIAS

Pela primeira vez na história das atividades legislativas, o valor utilizado com correspondências foi zero. Isto é, nem sequer uma carta foi enviada pelos 21 gabinetes para quem quer que seja. O cenário é muito diferente quando era comum os próprios vereadores escreverem a punho para os munícipes. Os assuntos eram diversos. A maioria, mensagens de aniversário e datas comemorativas como Natal, Dia dos Pais e Dia das Mães.

Cada parlamentar tem direito a uma cota que pode ser utilizada nas despesas como telefonia móvel, combustível e materiais de expediente. Os vereadores podem usufruir de 200 litros de gasolina por mês, linha de telefone fixo e móvel, com direito a um aparelho de celular e selos postais para envio de cartas. A renúncia das cotas vale para todo mandato. Logo, os vereadores que abriram mão em 2021, devem permanecer sem os valores destinados a celular e combustível até 2024, a não ser que apresentem algum documento com pedido de reversão. Segundo a Secretaria-geral do Legislativo, por enquanto, ninguém havia apresentado pedidos para abdicar das cotas ou voltar a usufruí-las.

- As cotas são algo individual. Existe a legalidade e depende da realidade de cada vereador se precisa ou não desses valores - avalia o novo presidente do Legislativo, Valdir Oliveira (PT).

Presidente do Legislativo em 2021, João Ricardo Vargas (Progressistas), menciona que iniciativas como essa servem de exemplo para os próximos anos:

 - O mais importante é lembrar que está tudo dentro da legalidade e depende do livre arbítrio de cada um. No aspecto da economia, isso foi positivo, pois possibilitou que a Casa a disponibilizasse recursos à prefeitura para serem usados no Auxílio Emergencial. E o que fica é o bom exemplo. Quem sabe outros vereadores não passem a abrir mãos das cotas?

Projeção

  • Presidente desde o dia 1º de janeiro, Valdir diz ser muito cedo para falar de previsões orçamentárias para 2022.

- Pedi para cada setor informar quais são as prioridades. Neste momento, o que vou priorizar é que os recursos sejam investidos na melhor maneira com foco para atender a população. É claro que as atividades administrativas devem ter condições de funcionar, mas queremos ter uma visão mais coletiva neste ano.

Vereadores que abdicaram da cota de telefone móvel de R$ 91,90 ao mês em 2021 (total de: R$ R$ 16.542)

  •  Anita Costa Beber (Progressistas)
  • Pablo Pacheco (Progressitas)
  • João Ricardo Vargas (Progressistas)
  • Roberta Leitão (Progressistas)
  • Alexandre Vargas (Republicanos)
  • Getúlio Vargas (Republicanos)
  • Ricardo Blattes (PT)
  • Marina Callegaro (PT)
  • Paulo Ricardo Pedroso (PSB)
  • Danclar Rossato (PSB)
  • Rudys Rodrigues (MDB)
  • Tubias Callil (MDB)
  • Givago Ribeiro (PSDB)
  • Tony Oliveira (PSL)
  • Werner Rempel (PC do B)


Vereadores que abdicaram da cota de combustível em 2021

  • João Ricardo Vargas (Progressistas)
  • Pablo Pacheco (Progressistas)
  • Roberta Leitão (Progressistas)
  • Givago Ribeiro (PSDB)
  • Lorena dos Santos (PSDB)
  • Paulo Ricardo Pedroso (PSB)
  • Danclar Rossato (PSB)
  • Marina Callegaro (PT)
  • Ricardo Blattes (PT)
  • Rudys Rodrigues (MDB)
  • Tubias Callil (MDB)
  • Valdir Oliveira (PT)
  • Werner Rempel (PC do B)


Economia mensal* em combustível

  • Janeiro R$ 978
  • Fevereiro R$ 1.078
  • Março R$ 1.180
  • Abril R$ 1.156
  • Maio R$ 1.156
  • Junho R$ 1.192
  • Julho R$ 1.196
  • Agosto R$ 1.220
  • Setembro R$ 1.262
  • Outubro R$ 1.272
  • Novembro R$ 1.420
  • Dezembro R$ 1.370
  • TOTAL: R$ 188.240,00 (valor mensal somado pelos 13 vereadores)


CERCA DE R$ 6,6 MILHÕES DO ORÇAMENTO NÃO FOI EXECUTADO

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Marcelo Oliveira (Diário)


Se a economia veio dos gabinetes por meio de vereadores que abdicaram o uso da cota de gasolina e telefonia móvel, por outro lado, um montante expressivo que estava previsto por lei ao orçamento da Câmara de Vereadores em 2021 nem sequer foi utilizado. Dos R$ 27.360 milhões, cerca de R$ 6,6 milhões não foram executados. Vale lembrar que, desse valor, cerca R$ 3 milhões foi revertido para o Auxílio Inclusivo, proveniente de R$ 1,5 milhão, inicialmente previsto para as obras do prédio do Legislativo; aproximadamente R$ 150 mil de equipamento permanente; cerca de R$ 400 mil que seriam investidos na TV Câmara e o restante são de dotações de serviços de tecnologias e de serviços de terceiros, segundo informou o setor de contabilidade da Casa. Os outros R$ 3,6 milhões não tiveram destinação.

Em novembro, em entrevista ao Diário, o então presidente da Câmara de Vereadores, João Ricardo Vargas (Progressistas), mencionou a aplicabilidade dos recursos para benfeitorias na Casa. Entre elas, a reforma no telhado, onde foram feitas em torno de 10 intervenções, o trabalho de limpeza e descupinização da escada e desinsetização em toda a Câmara. Na ocasião, Vargas reconheceu a dificuldade em resolver o problema que já dura quase uma década: a obra do prédio de cinco andares junto à sede do Legislativo e falou da possibilidade de alugar um outro imóvel fora da sede atual para a estrutura administrativa.

A obra em questão foi orçada inicialmente em cerca de R$ 4,5 milhões, com capacidade para 24 gabinetes e um auditório para até 400 pessoas. O serviço começou em 2012 e parou em 2013 após a rescisão com a empresa Engeporto, de Campo Bom, por conta de descumprimento de prazos. Em 2019, o Legislativo abriu uma licitação, no valor de R$ 160 mil, para recuperar patologias da obra - problemas causados pelo desgaste do tempo -, mas não houve nenhuma empresa interessada. Até o momento, já foi aportado pouco mais de R$ 1,6 milhão, o que representa cerca de 33% do total previsto.

Obra inacabada da Câmara parece ser um exemplo deu so problemático do recurso público", diz especialista

O custo das instituições representativas, com alguma frequência, é motivo de controvérsia. Entretanto, é importante considerar que os gastos são submetidos aos órgãos de controle público, como o Tribunal de Contas do Estado, sendo sua execução acompanhada e fiscalizada, e possibilita, em grande parte, transparência, sob o ponto de vista formal, nos processos. É o que reitera Cleber Martins, professor de Ciência Política, do Departamento de Ciências Sociais da UFSM.

No entanto, para além das questões formais, é também necessário levar em conta as condições e a estrutura para que parlamentares possam exercer a função para a qual se elegeram.

- Qualquer análise sobre o custo e gastos deve considerar o que a representação política demanda, a partir das atividades do Legislativo e suas aproximações com a sociedade. Situação que poderia pautar um debate público sobre a relevância do Poder Legislativo em regimes políticos democráticos, incluindo formas de aprimoramento da própria representação política. O caso da obra inacabada da Câmara Municipal de Santa Maria, no entanto, parece ser um exemplo de uso problemático do recurso público, considerando as várias questões que envolveram a obra ao longo do tempo e a demora na melhoria da estrutura - afirma o professor de Ciência Política. 

ORÇAMENTO

Em 2020

  • R$ 25.128.812,06

Em 2021

  • R$ 27.360.000,00

Em 2022

  • R$ 28.900.000,00


Gasto em 2021 foi 44% menor que em 2020

EM 2021

  • Telefonia fixa e celular - R$ 29.393,23
  • Correios e postagens - sem gastos
  • Combustível - R$ 84,825,58

EM 2020

  • Telefonia fixa e celular R$ 56,9 mil
  • Correios e postagens R$ 8,1 mil
  • Combustível R$ 134,7 mil



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